A decisão evita que a Câmara se mantenha em crise com o STF e livra Motta de se indispor com a Corte -o presidente vivia um impasse e buscava uma forma de não se desgastar com governistas, com o Supremo e com o PL, partido de Zambelli e maior bancada da Câmara, com 85 parlamentares
A renúncia da deputada Carla Zambelli (PL-SP), anunciada na tarde deste domingo (14), foi vista por quadros de esquerda como uma manobra oportunista para tentar não perder os seus direitos políticos, mesmo após ter sido condenada e presa.
Durante o ato promovido por movimentos de esquerda em São Paulo, na avenida Paulista, deputados e ministros do governo Lula (PT) lembraram que o STF (Supremo Tribunal Federal) já havia determinado a cassação de Zambelli após a Câmara dos Deputados mantê-la no cargo na madrugada de quinta-feira (11).
“Ela ia ser cassada de todo modo. Talvez seja uma estratégia da advogada dela e dela, de eventualmente não ficar inelegível”, disse o deputado federal Jilmar Tatto (PT). “É uma renúncia oportunista, o que é bem do estilo dela”, acrescentou ele.
A deputada Sâmia Bomfim (PSOL) disse que, com a renúncia, “é uma golpista a menos no caminho”.
“Eu vejo isso como jogar a toalha. Porque, na verdade, ela já está condenada, ela já está inelegível e ela está presa. Então não tem muita margem de manobra. Talvez tenha sido uma tentativa, não sei, jurídica, de, a partir de uma renúncia, fazer uma contestação da inelegibilidade.”
O mesmo argumento foi utilizado pelo ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário). “Acho que foi uma tentativa dela de evitar a perda dos seus direitos políticos. Creio que seja isso. Mas ela tem que perder e tem que ser presa”, afirmou.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a renúncia foi fruto de uma negociação entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) e aliados, a família de Zambelli e advogados.
A decisão evita que a Câmara se mantenha em crise com o STF e livra Motta de se indispor com a Corte -o presidente vivia um impasse e buscava uma forma de não se desgastar com governistas, com o Supremo e com o PL, partido de Zambelli e maior bancada da Câmara, com 85 parlamentares.
“A Carla Zambelli teve a condição de ser mais digna do que o presidente da Câmara”, ironizou a deputada Érika Hilton (PSOL) na avenida Paulista.
O ministro Guilherme Boulos (Secretaria-Geral da Presidência) cobrou a extradição de Zambelli, que está desde julho deste ano presa na Itália.
“Ela já está presa e já tinha sido tirada no cargo pelo Supremo. A questão agora, no caso da Zambelli, não é nem sobre o mandato, mas sobre a extradição dela para cumprir a pena no Brasil.”
Em maio deste ano, Zambelli foi condenada à perda de mandato e a dez anos de prisão por invadir o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) com ajuda do hacker Walter Delgatti Neto, também condenado. Por ter cidadania italiana, fugiu do Brasil ao fim daquele mês alegando receio de ser presa.
Em agosto, ela foi condenada a cinco anos e três meses de prisão por ter sacado e apontado uma arma para um homem na véspera do segundo turno das eleições de 2022.
O STF determinou que ela cumpra pena no Brasil. O pedido de extradição deve ser analisado pela Justiça italiana na próxima quinta-feira (18). Se for extraditada, ela deve ser levada para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal, conhecido como Colmeia.
Fonte: Noticia ao Minuto








