Por Vicente Santos
A tal “PEC da Blindagem” parece mais um capítulo sombrio na novela da proteção excessiva aos políticos no Brasil. Quando o relator Cláudio Cajado, em tom quase jocoso, perguntou numa entrevista: “Qual deputado é criminoso hoje?”, deu a receita do que de fato estamos vivendo. A resposta da sociedade está clara — muitos sabem, muitos apontam, só que provas concretas faltam ou são varridas para debaixo do tapete.
Essa PEC não surge do nada. Ela é basicamente um escudo, um manto de impunidade que os parlamentares querem vestir para se protegerem. Querem continuar cometendo abusos e crimes sem o risco de serem investigados ou processados facilmente. Querem a prerrogativa de ficar imunes às consequências e não precisar ouvir o rótulo de “criminoso” pelas ruas, onde o cidadão comum sofre e é cobrado por seus deslizes.
É inacreditável pensar que em pleno século 21, num momento em que a indignação contra a corrupção já virou assunto cotidiano, esses representantes passam uma legislação para aumentar sua blindagem. Voto secreto para decidir se aceitam ou não processos contra si próprios, agravação do foro privilegiado — que já é um dos maiores entraves da justiça — e a obrigatoriedade de demora de até 90 dias para dar uma resposta. Tudo isso apenas fortalece a distância entre a população e a esperança de um Legislativo que trabalhe para o povo.
Enquanto isso, quem paga o pato é a sociedade, que testemunha mais uma vez o conchavo para manter privilégios numa espécie de bolha intocável. Essa PEC não protege o Congresso. Protege quem nele está usurpando o poder para benefício próprio. E deixa o cidadão comum numa posição de impotência frente a um sistema desigual.
Se antes já era difícil confiar em políticos, com essa blindagem, a sensação que fica mesmo é a de que estamos presos num ciclo vicioso — onde a lei é seletiva, e o direito à justiça, um privilégio para poucos. Resta a nós, brasileiros, não aceitar essa normalização e continuar cobrando transparência e responsabilidade. Afinal, os políticos são servidores públicos, não donos do poder.








